Carolina Maria de Jesus, 199p.
Por muito tempo queria conhecer esta historia, mas ora não havia à disposição, ora o preço não permitia a aquisição, até que joguei tudo para cima e encarei a compra.
No enredo o cotidiano de uma favelada, com a linguagem de quem estudou pouco. A visão de alguém “de dentro” da favela, descrevendo o trabalho, a fome, a “politicagem”, os rebuliços e outras passagens, além dos seus questionamentos sobre os seus sofrimentos.
Para mim foi uma leitura interessante, mas que não rendia. Como as passagens por vezes são repetitivas, a leitura não flui, mas não quero dizer que não seja interessante porque é!
“Quando a gente perde o sono começa pensar nas misérias que nos rodeia.”
Os erros de português foram deixados propositalmente para dar maior realidade ao livro e vem: cançada, puzeram, visinho, localisar, organisação, eleitoraes, purtuguês, sosinho, horrorisada, geito, chingando, puis, iducação, mas são erros comuns, apesar de grosseiros. Na verdade pareceu-me admirável ela escrever tudo o que escreveu e com tão pouco estudo.
A escrita auxiliou-a a melhorar a sua vida e retirou-a da favela que ela tanto detestava, e isso me deixou extremamente feliz. Triste saber que ainda existem pessoas como ela, que fazem o impossível para sobreviver e ainda assim acabam vasculhando o lixo para comer. Mas, como saber quem é honesto e quem não?!?! O mundo, as pessoas, estão confusos para mim!
“O meu sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me a andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir na favela.”
Ela catava ferro e papel. Vivia cansada, “quebrada”, lutando contra a fome, preocupada com os filhos e seguindo. Conhecia os locais que dava comida ou onde buscar sobras como no frigorífico. Interessante como ela sempre menciona a vontade de escrever. E este hábito faz com que ela siga, foi desta forma que senti. Ela é uma sonhadora, mas consciente da situação em que vive e da sociedade que a rodeia.
O texto ocorre como um diário. O relato é de 1950, na favela do Canindé (extinta). As dificuldades que ela nos conta são imensas e a critica dela em relação a favela é bem parecida com a que tenho, só que ela tem a real vivência. Isso foi interessante de ver e sentir. Ela também era muito consciente da política da época e do que eu diria que ainda é.
“No nosso país tudo está enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A democracia é fraca e os políticos fraquíssimos. E tudo o que é fraco, um dia morre.”
Foi interessante! Uma leitura que eu já recomendei a pessoas próximas de mim! Ainda bem que o jornalista Audálio Dantas a descobriu e a história chegou até nós e segue entre nós. Já foi traduzida para 14 idiomas.