69. O aprendiz de feiticeiro

Mário Quintana, 72p. O aprendiz de feiticeiro

“E, de repente, / Todas as coisas imóveis se desenharam mais nítidas no silêncio / As pálpebras estavam fechadas. / Os cabelos pendidos. / E os anjos do SEnhor traçavam cruzes sobre as portas.” (Momento)

A bibliografia de Quintana é surpreendente. Esta obra surgiu/foi publicada em 1950, a primeira em 1940 e apesar de eu ter gostado de muitos poemas, outros não consegui entrar no clima e compreender e comparando com o que já conhecia do autor, gostei mais do “80 anos de poesia”, a antologia publicada quando ele fez 80 anos onde participei mais dos versos e passei a adorar a escrita do autor. Talvez por ter textos de fases mais maduras, vai saber!

“O poema é uma pedra no abismo, / O eco do poema desloca os perfis: / Para bem das águas e das almas / Assassinemos o poeta.” (O poema)

Por gostar do poeta, acabei encontrando um número razoável das obras dele na Biblioteca da cidade e pretendo, aos poucos, ir lendo uma aqui e outra ali. Comecei por esta.

Não sei por que, sorri de repente / E um gosto de estrela me veio na boca…/ Eu penso em ti, em Deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos.” (Excerto de “Noturno”)

Ele nasceu em 1906 em Alegrete, jovem foi estudar em Porto Alegre. Trabalhou na Livraria do Globo por 3 meses, mas retornou a Alegrete e trabalhou na farmácia de seu pai. Logo perdeu a mãe e no ano seguinte, o pai no mesmo ano em que um poema seu é publicado na revista “Para Todos” do Rio de Janeiro. Em 1929 ingressou na redação do jornal “O Estado do Rio Grande” em Porto Alegre. Colabora também com a “Revista do Globo”. Sua primeira tradução ocorreu em 1934. Traduz Proust, Virginia Woolf, Aldous Huxley, Joseph Conrad, entre outros.

“Vou andando feliz pelas ruas sem nome…. / Que vento bom sopra do Mar Oceano! / Meu amor eu nem sei como se chama, / Nem sei se é muito longe o Mar Oceano…”

Em 1940 publica “A rua dos cataventos”, livro de sonetos, pela Editora Globo, de Porto Alegre. Em 1946, publica “Canções”, em 1948 “Sapato florido” e “O batalhão das letras”. Surge “O aprendiz de feiticeiro” em 1950, “Espelho mágico” em 1951, “Inéditos e esparsos” em 1953 e “Poesias” em 1962. Foram passando os anos e ele publicando até a sua morte em 1994, no dia 5 de maio.

“Na volta da escada, / Na volta escura da escada. / O Anjo disse o meu nome. / E o meu nome varou de lado a lado o meu peito. / E vinha um rumor distante de vozes clamando clamando… / Deixa-me! / Que tenho a ver com as tuas naus perdidas? / Deixa-me sozinho com os meus pássaros… / com os meus caminhos… / com as minhas nuvens…” (O anjo da escada)

Teve seus poemas musicados. Recebeu o título de “Cidadão Honorário de Porto Alegre”, foi homenageado pela prefeitura de Alegrete. Também foi Patrono da XXXI Feira do Livro de Porto Alegre e muitas outras homenagens ocorreram em sua vida.

Sempre vale a pena conhecer Quintana, ainda mais por ser um poeta brasileiro. Vocês sabem que gosto muito de incluir literatura nacional em minhas “andanças literárias”. Incluam também!

Deixe um comentário