44. Van Gogh

Coleção Mestres da Pintura – Abril Cultural, 98p.

Seguindo a minha imersão na vida e obra do Van Gogh devido a exposição que tive a oportunidade de visitar em São Paulo, encontrei essa breve biografia dele na Biblioteca Martins Fontes do Guarujá. Uma coleção da Abril Cultural com outros mestres, mas o que mais me chamou atenção é que o livro além de uma breve biografia, apresenta pranchas com 63 obras dele e lógico que eu me apaixonei por algumas que eu não conhecia!

Conta o livro que desde criança ele era sonhador, rebelde e inclinado à solidão. Aos 16 foi trabalhar com seu tio em Haia, vendendo arte, onde aproveita as hora de folga para visitar os museus, começando a desenvolver o gosto pela literatura e pela pintura. Frustra-se ao pedir uma mulher em casamento e ser repelido. O sofrimento leva-o a procurar um objetivo concreto para a própria existência. Pensa em Paris que o atrai pelo fato de ser o centro cultural e artístico co Ocidente. Ele estava com 21 anos e deixou-se fascinar pela vida dinâmica da cidade. Devora livros de Baudelaire, Dumas, Flaubert, Victor Hugo, Rimbaud, entre outros. Visita exposições, mas leva uma vida solitária.

Torna-se pastor e vai pregar nas minas carboníferas do Borinage (Bélgica). Vive a fé de servir aos semelhantes e vai ao exagero. Encerra essa carreira e passa a vagar por regiões próximas, fazendo rascunhos de paisagens, pessoas que lhe interessam, tirando lições dessas andanças.

Escreve ao irmão Theo demonstrando a vontade de dedicar-se inteiramente à pintura. Theo se compromete a ajudá-lo.

Tem outra decepção amorosa. Passa uma fase pelos campos e produz os primeiros quadros a óleo. Retorna a casa do pai, perde-o, mas é um período bem produtivo e sua arte ganha um estilo pessoal destacando-se as cores densas (betume, negro azulado, terrosas). Ele não aceita ser um pintor da moda, sua luz interior procura a verdade pictórica e suas pinceladas sombrias, adaptam-se aos dramas que escolhe como tema. Ele nesta fase, ressalta o aspecto até grosseiro do que retrata e surge sua primeira obra-prima: “Os comedores de batatas”. Entretanto, começa a descobrir o caminho da luz que o conduz à grande explosão da cor.

Quadro Os comedores de batata

Chega em Antuérpia em 1885 onde fica 3 meses e descobre as gravuras japonesas com seu modo de representar o espaço e também descobre a liberdade técnica. Suas cores ganham fluidez e vivacidades. Os toques são suavizados.

Em 1886, vai para Paris com o irmão Theo e conhece Toulouse-Lautrec, Monet, Renoir, Pissarro, Gaughin. Vive com pintores novos, reúne-se nos cafés agitados, discute o impressionismo. Participa de toda a ebulição que o cerca. Trabalha febrilmente. A luz penetra em suas telas. Permanece dois anos na cidade onde pinta mais de 200 quadros. Já é um grande pintor, mas um homem difícil, que se entrega de modo apaixonado a tudo o que ama ou faz.

Vai para Arles, onde fica de 1888 a 1889 e são seus anos mais significativos. A luz da Provença permite-lhe descobrir novos ritmos. Aqui pinta sua famosa série de girassóis. Passa horas no sol pintando e à noite, às margens do Ródano, à luz de velas, dedica-se a pintar “Noite Estrelada”, fascinado pela beleza celeste das estrelas desabrochando como flores de luz.

Conhece o carteiro Roulin e o esplendor do Mediterrâneo. Trabalha como nunca, deslumbrado com as tonalidades ouro-velho, bronze e cobre que a luz da Provença espalha em toda parte. Mas, é a luz interior que ele procura representar: “… quero que as cores apresentem as emoções.”

Gauguin chega, Convivem por dois meses produzindo muito, mas o equilíbrio emocional se rompe, eles discutem e Van Gogh acaba se mutilando com uma navalha, decepando a orelha esquerda. Gauguin foge para Paris. Ele vai para o hospital, retorna em 10 dias. O carteiro Roulin, seu amigo, deve partir para Marselha. Van Gogh fica sem os amigos que o confortam e o novo isolamento detona uma série de alucinações. Segue para um asilo em Saint-Rémy. Segue pintando e inicia uma nova fase: reinado do ritmo com linhas em movimento unindo céu e terra, um exemplo: a segunda “Noite estrelada” onde bailam cores e ritmos.

Em Saint-Rémy pinta mais de 200 quadros e faz centenas de desenhos em apenas 15 meses.

Theo consegue que o psiquiatra Gachet cuide dele. Ele vai para Auvers e volta ao trabalho. Tem crises. Vai para Paris e ao retornar sente-se desesperado. Não consegue suportar a solidão e não tem forças para combater as alucinações que o assaltam. Vai aos campos, pinta três grandes telas, uma com gralhas revoando, transpondo seu estado de alma. 27 de julho está perambulando pelos trigais, armado para atirar nas gralhas mas, entre as espigas dispara um tiro em si próprio. Falece dia 29 e é enterrado em Auvers.

Das 63 obras que o livro nos apresenta eu me apaixonei por diversas, segue alguns exemplos:

Jardim Florido em Arles (1888)

Quadro Jardim Florido em Arles

Noite estrelada (1888)

Quadro Noite estrelada 1

Carteiro Roulin (1888): gostei por conhecer mais sobre ele – que espetáculo de indivíduo

Quadro O carteiro Roulin

Girassois (1888)

Quadro Girassois

Noite estrelada (1889)

Quadro Noite estrelada 2

Paisagem próxima a Auvers (1890)

Quadro Paisagem próxima a

e o triste Seara com gralhas (1890)

Quadro Seara

43. Sonhos em amarelo

Luiz Antonio Aguiar, 109p. – Kindle

Adorei! Sonhos em amarelo

Um dos livros que li para a imersão que me meti devido a uma exposição do Van Gogh que eu iria visitar no meio da semana. Passei o fim de semana anterior lendo obras e textos relativos ao famoso artista.

Neste livro, a trama é criada a partir da ideia de como a família do carteiro Roulin conviveu com Van Gogh, sua época de maior produtividade e criatividade, refletindo até hoje, pois foi nesta fase que ele criou suas obras mais famosas, por exemplo “Os girassóis”. A família se mantém admirando o pintor até o fim dos seus dias com eles.

O filho do carteiro é o que mais convive com o artista e é ele quem narra a história que se passa em Arles. Ele via o artista pintando e emitia opiniões que Van Gogh assimilava. Há momentos de tensão, de realização e aqueles de desequilíbrio que todos sabemos que o pintos viveu. O carteiro foi retratado pelo artista e foi muito legal ver as obras associadas a esta fase da vida de Van Gogh nas paredes da exposição.

Achei o livro belíssimo, apesar de triste, mas fazer o quê? Parece que a história do pintor não foi a mais feliz!

42. A ampulheta e outras peças

W.B.Yeats, 80p. 20220620_100642

Manuscrito original da obra na Biblioteca Nacional da Irlanda

Obaaaa, mais um Nobel para a minha alegria, e a medalha está aí ao lado!20220620_101314

Com minha sobrinha morando na Irlanda, os autores irlandeses cresceram por aqui e este que já estava na lista de desejos teve uma busca mais atenta para suas publicações. Não foi simples, não encontrei diversas opções, mas fiquei feliz por encontrar essa e com um preço bem camarada! Resultado: cestinha!

Yeats foi laureado com o Nobel em 1923. Fez parte do renascimento literário irlandês e ajudou a inaugurar o Abbey Theatre em 1904.

O livro apresenta 3 peças:

Na primeira, “A ampulheta”, traz um sábio que não acredita em Deus, Paraíso, Inferno e é visitado pelo Anjo da Morte e, para se safar do destino próximo, tem o tempo de uma ampulheta para encontrar alguém que crê. Como ele é o formador de opinião daqueles que estão ao seu redor, a missão torna-se difícil. O texto é curto e bom. Uma peça que traz reflexões tanto para aqueles que acreditem como para aqueles que não.

Todas as criaturas que raciocinam duvidam.

Na segunda, de nome diferente “Cathleen Ni Houlihan”, apresenta-se a véspera de um casamento falando-se de dote, roupa, filosofias sobre casamento, valores. Há a presença de uma Velha que traz pensamentos estranhos. Das três peças, foi a que menos gostei.

Na terceira que chama-se “Uma panela de caldo”, encontramos a já conhecida lenda de um caldo feito de pedra, uma leitura divertida!

Gostei bastante da leitura. Foi divertida, me fez refletir em alguns momentos, rir em outros. Valeu!

41. Cão como nós

20220609_103905Manuel Alegre, 120p.

Imagem: Livro e seu autor – Parque dos Poetas – Oeiras/Portugal

Esse livro encheu meu coração de carinho. Normalmente livros que falam sobre cães, são quentinhos, né? Esse é mais um!

Trata-se de uma história real.

“Alguém falou da tristeza e do vazio do olhar dos animais. Vi a tristeza, em certos momentos, no olhar do cão. A tristeza de quem quer chegar à palavra e não consegue. Mas não vi o vazio. O vazio está talvez nos nossos olhos. Quando por vezes nos perdemos dentro de nós mesmos. Ou quando buscamos um sentido e não achamos. O cão sabia o sentido, o seu sentido. E nunca se perdia.”

O autor, famoso na literatura portuguesa, atuou contra as ditatoriais premissas do regime fascista por lá e por isso, foi exilado e depois, político. Alguns dizem que nunca deixou de lutar por uma nação mais fraterna e justa. Como não sou portuguesa e nem vivo por lá, não tenho como analisar o autor como político, mas sim podemos conversar sobre este conto tão bonito!

“Era verdade. Durante uns dias o cão não falou. Digo bem: não falou. A fala é muito complicada. Está antes da palavra, como a poesia. E aquele cão falava. Falava com os seus vários modos de silêncio, falava com os olhos, falava, até, com o rabo, falava com o andar, com as inclinações da cabeça, com o levantar ou baixar as orelhas. Daquela vez calou-se por completo. Não falou com nenhum dos seus sinais. Nem sequer com o seu silêncio.”

São 51 capítulos curtos, com diagramação ótima da Editora Dom Quixote. Os capítulos vão descrevendo a relação do cão Kurika com a família (ele, a esposa e 3 filhos) demonstrando como o cão impactou a vida de cada um deles. Não dá para descrever como era com cada um para não perder a graça de quem ainda irá encarar as aventuras desta família, mas acreditem que é divertido.

“…. sempre contrafeito, olhando-me de esguelha, jamais convencido de que entre humanos e cães há uma diferença e que essa diferença é favorável aos primeiros. Era um cão rebelde, teimoso, de certo modo subversivo. Às vezes insuportável.”

A linguagem é coloquial, direta, o que faz com que o conto seja mais gostoso ainda de se ler. Eu me via ora torcendo pelo Kurika, ora pelos donos nas mais diversas situações. As comparações são divertidíssimas!

“A agitação dele era uma forma de amor. Um amor atento, aflito e vigilante.”

Consegui notar como, apesar de uma vida tão curta que este cão também teve (são poucos anos, né?), ele deixou marcas inesquecíveis e carinhosas na família, demonstrando mais uma vez, como eles passam pela vida dos homens sempre deixando algo positivo impresso na recordação, no coração de quem os recebem!

“… apenas com o cão por companhia, pensava que, contrariamente ao que ele supunha, não eram precisas palavras para entendermos o essencial: que tudo é uma breve passagem e que não há outra eternidade senão a da solidão partilhada. Ou no amor, ou na camaradagem das grandes batalhas, ou no silêncio de uma sala entre um leitor e um cão.”

Eu adorei e recomendo. Vai aquecer o seu coração e às vezes te fazer rir!

40. A maleta do meu pai

Orhan Pamuk, 96p. A maleta do meu pai

Um “livrinho” encontrado nas estantes da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato de São Bernardo do Campo que foi escolhido pelo autor, Nobel, porque vocês já sabem, gosto da escrita de muitos dos laureados com o prêmio e o Pamuk, que eu já conhecia, está na lista do que gosto. Ele parece escrever longos romances (o que me desanima vez ou outra – rs) e me admirei deste ser um livro tão fininho. Na verdade, assim é pois, nele constam três discursos do autor:

  1. Cerimônia do Prêmio Nobel de literatura em 2007
  2. Cerimônia do Friedenspreis em Frankfurt em 2005
  3. Conferência Puterbaugh sobre literatura mundial

Tenho tantos marcadores nas páginas do livro que estou achando melhor transcrevê-lo aqui!

Na leitura do primeiro texto, uma ode a literatura, uma investigação do processo criativo dele, o fascínio da literatura e uma história pessoal que me levou ao que mais gosto quando leio e que é muito raro ocorrer: chorei. Que texto lindo! Só de conhecer este texto já queria adquirir um exemplar deste livro e mantê-lo nas minhas estantes, mas o preço está proibido para o meu bolso. Eu queria e ainda quero compartilhar o texto com mais dois amigos literários. Acho que eles também irão se emocionar!! Um texto curto, cerca de 30 páginas e haja marcadores!!!

No segundo texto há uma ótima visão do escritor x romance x literatura (e muitos marcadores também) e uma defesa bem interessante da cultura turca que eu estendi para as demais culturas subestimadas por aqueles que se julgam os melhores do mundo. Esse mundo piegas, bobo, chato, de valores pequenos!

No terceiro e último texto que o livro contém, ele fala do significado da literatura em sua vida. O texto tenta explicar o significado dela no cotidiano dele. Se eu sublinhasse o livro, ele estaria quase que totalmente marcado. Também descreve como sonha o livro e o transforma no que conhecemos, ou não. É um texto muito interessante!

Ao final, sabe aqueles livrinhos poderosos? Esse é mais um. Pequeno, curto e forte. Recheado de significados. Demorei mais do que o esperado para finalizá-lo, pois entrei de corpo, mente e alma em suas páginas. Do pouco que conheço de Pamuk, com essa ode a literatura em seus diferentes formatos (livros, escritores, leitores) ele me conquistou e mais dois dos seus livros que estão em minhas prateleiras subiram muitas casas na listinha infindável para que eu inicie sua leitura!

Espero que vocês tenham as mesmas sensações que eu tive ao ler este livro. Se assim o for, certeza que irão se divertir!

Para não permear o texto com o que marquei, vou colocar aqui, na sequência:

“O escritor é uma pessoa que passa anos tentando descobrir com paciência um segundo ser dentro de si, e o mundo que o faz ser quem é: quando falo de escrever, o que primeiro me vem à mente não é um romance, um poema ou a tradição literária, mas uma pessoa que fecha a porta, senta-se diante da mesa e, sozinha, volta-se para dentro; cercada pelas suas sombras, constrói um mundo novo com as palavras.”

Escrever é transformar em palavras esse olhar para dentro, estudar o mundo para o qual a pessoa se transporta quando se recolhe em si mesma, com paciência, obstinação e alegria.”

As pedras que usamos, nós os escritores, são as palavras. Quando as colhemos com as mãos – tentando intuir a maneira como cada uma se conecta com às outras, contemplando-as às vezes de longe, às vezes quase chegando a acariciá-las com os dedos e a ponta da caneta, sopesando-as, virando-as de um lado e de outro, ano após ano, sempre com paciência e esperança – , criamos novos mundos.”

O segredo do escritor não é a inspiração – pois nunca fica claro de onde ela vem -, mas a sua teimosia, a sua paciência.”

Para tornar-se escritor, paciência e empenho não bastam: a pessoa, antes, precisa sentir-se compelida a evitar multidões, as outras pessoas e os assuntos da vida ordinária de todo dia, recolhendo-se e ficando em silêncio. Ansiamos por paciência e esperança que nos permitam criar um universo profundo na escrita. Mas o desejo de recolhimento é o que nos impele à ação.”

Acredito que a literatura seja o tesouro mais valioso que a humanidade acumulou em sua busca de compreender a si mesma.”

O escritor que se recolhe e antes de mais nada empreende uma viagem para dentro de si mesmo haverá de descobrir ao longo dos anos a regra eterna da literatura: é preciso ter o talento de contar as próprias histórias como se fossem histórias dos outros, e contar as histórias dos outros como se fossem suas, porque é isso a literatura. Mas antes é preciso viajar pelas histórias e pelos livros dos outros.”

O que é a felicidade? A felicidade era achar que eu vivia uma vida profunda naquele escritório solitário? Ou a felicidade seria levar uma vida confortável em sociedade, acreditando nas mesmas coisas que todo mundo, ou pelo menos agindo como se acreditasse?”

Para mim, ser escritor é reconhecer as feridas secretas que carregamos, tão secretas que mal temos consciência delas, e explorá-las com paciência, conhecê-las melhor, iluminá-las, apoderar-se dessas dores e feridas e transformá-las em parte consciente do nosso espírito e da nossa literatura.”

Escrevo porque tenho uma necessidade inata de escrever! Escrevo porque sou incapaz de fazer um trabalho normal, como as outras pessoas. Escrevo porque quero ler livros como os que eu escrevo. Escrevo porque sinto raiva de todos vocês, sinto raiva de todo mundo. Escrevo porque adoro passar o dia sentado à mesa escrevendo. Escrevo porque só consigo participar da vida real quando a modifico. Escrevo porque adoro o cheiro do papel, da caneta e da tinta. Escrevo porque acredito na literatura, na arte do romance, mais do que em qualquer outra coisa. Escrevo porque é um hábito, uma paixão. Escrevo porque tenho medo de ser esquecido, porque gosto da glória e do interesse que a literatura traz. Escrevo para ficar só. Talvez escreva porque tenho a esperança de entender por que eu sinto tanta, tanta raiva de todos vocês, tanta, tanta raiva de todo mundo. …. Escrevo porque tenho uma crença infantil na imortalidade das bibliotecas, e na maneira como meus livros são dispostos na prateleira. Escrevo porque é animador transformar todas as belezas e riquezas da vida em palavras. …. Escrevo porque desejo escapar do presságio de que existe um lugar para onde preciso ir mas ao qual – como num sonho – nunca chego. Escrevo porque jamais consegui ser feliz. Escrevo para ser feliz.”

Uma semana depois de ter entrado no meu escritório e me deixado a sua maleta, meu pai voltou a me visitar; como sempre, me trouxe um tablete de chocolate (esquecera que eu tinha 48 anos de idade). Como sempre, conversamos e rimos….” – e eu chorei, recordando de tudo o que meu pai deixava prontinho quando ele sabia que eu passaria por lá: minhas frutas preferidas, cappuccino da marca que eu gosto, guloseimas….. quando ele se foi eu estava com 49 anos e sempre, sempre fui uma menininha para ele.  Choro agora…. quanto amor envolvido, né?

“…. a escrita e a literatura estão intimamente ligadas a uma carência no centro da nossa vida, e aos nosso sentimentos de felicidade e de culpa.”

“Os mecanismos maravilhosos do romance nos permitem apresentar nossa história a toda a humanidade como se fosse a história de alguma outra pessoa.”

Por trás de todo grande romance está um autor cujo maior prazer consiste em entrar em outra forma e dar-lhe vida – um autor cujo impulso mais forte e criativo é pôr à prova os limites da sua identidade.”

… compartilhando a nossa vergonha secreta que poderemos nos libertar: eis o que me ensinou a arte do romance.”

Quando um romancista começa a brincar com as regras que governam a sociedade, quando escava e encontra abaixo da superfície a geometria oculta da vida, quando explora esse mundo secreto como uma criança curiosa, impelido por emoções que nem consegue entender direito, é inevitável que acabe trazendo algum mal-estar para seus familiares, amigos, pares, concidadãos. Mas esse desconforto é feliz. Porque é através da leitura de romances, histórias e mitos que conseguimos entender as ideias que governam o mundo em que vivemos; é a ficção que nos dá acesso às verdades que a família, a escola e a sociedade mantêm veladas, ocultas; é a arte do romance que nos permite perguntar quem afinal realmente somos. Todos conhecemos a alegria da leitura de um romance: todos já experimentamos a emoção de enveredar pelo caminho que leva ao mundo de outra pessoa, ingressar naquele mundo de corpo e alma e sentir o desejo de mudá-lo à medida que vamos nos impregnando da cultura do herói…..”

“Os romances nunca são totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta.”

“…. a grande literatura não se dirige à nossa capacidade de julgamento, e sim à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.”

“É na leitura de romances que as sociedades modernas, as tribos e nações pensam mais profundamente acerca de si mesmas; é na leitura dos romances que conseguem definir quem são; assim, mesmo que só tenhamos pegado aquele romance na esperança de um pouco de diversão, algum relaxamento e uma fuga do tédio do dia-a-dia, ao lê-lo começamos, sem perceber, a conjurar a coletividade, a nação, a sociedade a que pertencemos.”

“… é que a imaginação – a imaginação do romancista – que dá ao mundo limitado da vida cotidiana a sua particularidade, a sua magia, a sua alma.”

“A vida só pode ser feliz se conseguirmos enquadrar esse estranho e intrigante produto em alguma moldura. Na maior parte das vezes, a nossa felicidade ou infelicidade não deriva da vida propriamente dita, mas do significado que lhe damos.”

“Para ser feliz, preciso da minha dose diária de literatura. E nisso não sou diferente do doente que precisa tomar uma colher de remédio por dia.”

“Para mim, literatura é um remédio.”

“A maior parte do que escrevo não consegue atender aos meus padrões de qualidade.”

“Para escrever bem, primeiro preciso estar extremamente entediado; para ficar extremamente entediado, preciso entrar na vida. É quando sou bombardeado por barulho, sentado num escritório cheio de telefones que tocam, cercado de amigos e parentes ao sol numa praia ou num enterro chuvoso – noutras palavras, no momento exato em que começo a sentir o pulso da cena que se desenvolve à minha volta – que de repente me sinto como se não estivesse mais ali, e sim assistindo a tudo de fora. E começo a sonhar acordado. …. uma voz dentro de mim vai surgir, dizendo-me para voltar para minha sala e me sentar diante da mesa.”

“Escrever um romance é estar aberto a esses desejos, anseios, ventos e inspirações, aos recessos mais obscuros da mente e aos seus momentos de névoa e silêncio.”

“Acima de tudo, um romance é uma cesta que carrega dentro de si um mundo sonhado que desejamos conservar vivo para sempre, e sempre à nossa disposição.”

“Sonhar um livro não é difícil, é uma coisa que faço sempre, assim como passo muito tempo imaginando ser outra pessoa. O difícil é ser o autor implícito do livro dos seus sonhos.”

39. Contos do Jordão

André Falacho Torres, 69p. Contos do Jordão

Como o nome diz, são contos.

Passando São José dos Campos e Caçapava, chegou a Taubaté e pegou a saída para Campos pela SP-123, rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro.

O trecho acima é do conto “O viajante noturno” e é o caminho que ele faz e aquele que eu conheço e já fiz dezenas e dezenas de vezes. E eu lá, só lendo e acompanhando o movimento.

“Enquanto os rolos de névoa da serra se sucediam contra o para-brisa do carro encobrindo em partes as consecutivas curvas da estrada. Precisava estar esperto. O silêncio era bom.”

O motorista do conto, que é bibliotecário, dirige sonhando, como eu. Medita, pensa, reflete.

No segundo conto, uma pessoa sofre uma transformação física e eu fui imaginando as cenas em uma Campos do Jordão cheia de gente e fui imaginando aqueles locais citados que eu conheço.

Ainda surge conto que fala da cidade como sanatório e cura da tuberculose no Brasil no final do século XIX, até meados da década de 1940 e vários escritores lá estiveram: Nelson Rodrigues, por exemplo. Em outro conto surge o bonde, seus trilhos.

O interessante deste e-book foi a mesma coisa do livro de poesias lido anteriormente. Todos os contos são ambientados na cidade de Campos do Jordão e aparecem muitos e muitos locais que conheço. Essa associação local x texto como vocês já sabem, me atrai bastante e faz com que a leitura seja mais interessante.

Para quem vai dar um pulo na cidade, vale a pena dar uma olhada nestes dois e-books sobre ela. Curti!

38. Majestosa Campos do Jordão

Keisy Santos, 43p. Majestosa Campos

Cidade destino famoso e preferido dos paulistas no inverno. Aliás, um destino muito procurado no inverno pelos brasileiros.

A cidade possui um inverno gostoso, apesar de ficar ultra lotada em julho e possui uma bonita natureza.

O e-book nos conta exatamente isso, nos mostra as belezas naturais da cidade, um pouco de cultura e curiosidades do destino turístico tão aclamado. Mas, são poesias. Uma verdadeira excursão pela cidade e o legal foi ver um livro completamente dedicada a ela!

Nas poesias, a autora descreve partes do município onde reside e trabalha. São 2 partes: a primeira abordando os pontos turísticos mais visitados e a segunda destacando a paisagem. As cenas são leves, a escrita simples, fácil seguir as suas passagens.

“Outono é uma aquarela, / Uma quimera, / Outono é vida, é poesia / Outono é música, é sinfonia.”

Eu que gosto da cidade e sempre que posso dou uma passadinha por lá, exceto em julho (rsrsrs), curti acompanhar os versos dessa autora. Para quem ainda não conhece, serve de aquecimento para se programar e dar uma esticadinha subindo a serra até Campos do Jordão!

37. De Paris, com amor

Lino de Albergaria, 87p. De Paris, com amor

Livro infanto-juvenil. Formato epistolar. Dois jovens, na escola, começam a trocar bilhetes que se tornam cartas e uma história de amor que circula pelo mapa de Paris, local distante para eles, mas que torna-se a aventura para o jovem casal. Uma Paris imaginária.

“Quem gosta tanto de Paris e conhece tantos detalhes da cidade, só pode ser romântico.”

Passamos por diversos pontos que conhecemos de algum modo: Notre-Dame, Place de la Concorde, Bastilha, Place des Vosges, Hotel de Ville, Sena , Ponte Neuf, Café de Flore, “Aux-Deux-Magots”, Sorbonne, Louvre, Museu D´Orsay e outros.

“Abro o mapa. Paris e uma mancha arredondada, riscada de ruas tortas, atravessada por uma linha azul e curva, que é o rio Sena.”

Acompanhamos a evolução de uma paixão entre dois adolescentes. Aquela paixão singela, que vai acontecendo naturalmente, sem meter os pés pelas mãos, que é o que acabamos fazendo vez ou outra. Eles vão trocando cartas com as coisas acontecendo no tempo de cada um.

Leitura bem fácil, naquele estilo chamado “água com açúcar” – rs.

36. Carta a D – história de um amor

André Gorz, 80p. Carta

“… carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.”

Quando a frase acima está no primeiro parágrafo de um livro, você já sabe que será uma declaração de amor. E surgem: Dorine (D.) e André, que construíram o próprio mundo, mas um mundo real, de todos nós.

“Tive muitas dificuldades com o amor, pois é impossível explicar filosoficamente por que amamos e queremos ser amados por determinada pessoa, excluindo todas as outras.”

Não me prendeu como o “Sobre Alice”, mas é a história de amor entre o autor e a esposa onde ele relembra a trajetória deles e como ela foi essencial a vida dele devido a forma como encarava a vida e o seu companheirismo.

Eles ficaram juntos por 58 anos. Foi o último livro escrito pelo filósofo que escreveu dezenas deles e foi um dos principais conhecedores da obra de Sartre. Ela trouxe vida a ele, trouxe a realidade. Um retrato das bases, que devem ser sólidas, para uma relação duradoura.

Você não precisava das ciências cognitivas para saber que, sem intuições ou afetos, não há nem inteligência, nem sentido. “

É um livro romântico. Uma carta de amor e como já dizia Pessoa, “… todas as cartas de amor são ridículas, mas só criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas.” E convenhamos que vivemos um tempo de relações tão superficiais onde os valores humanos estão tão invertidos, onde coisas tem mais valor do que pessoas e sentimentos, ler uma carta de amor de uma relação tão duradoura é muito bonito!

“Você me deu toda sua vida e tudo de si; e eu gostaria de poder lhe dar tudo

de mim durante o tempo que nos resta.”

Entretanto, em algum momento ele se perde e começa a falar demais dele mesmo, da própria escrita e das suas fundamentações filosóficas e perde-se um pouco o cunho romântico de toda a escrita, entretanto, podemos notar a presença dela em todas as fases profissionais dele e o quão importante ela foi para ele ser quem foi. Ele também mostra-se vulnerável e demonstra tudo o que ela significa em sua vida e também os medos, as dificuldades, as culpas.

“Você dizia que tinha se unido a alguém que não podia viver sem escrever, e sabia que quem quer ser escritor precisa se isolar, tomar notas a qualquer hora do dia ou da noite; que seu trabalho com a linguagem continua mesmo depois de largar o lápis, e pode inesperadamente se apossar dele por completo, bem no meio de uma refeição ou uma conversa. …. Amar um escritor é amar que ele escreva, dizia você. Então escreva!”.

É um relato de uma relação analisada de forma profunda e individual. E sim,  como eu gostaria de um dia ser amada assim: de forma real, me colocando nos sentidos dos dias, não uma relação perfeita de contos de fadas, mas realista onde um relacionamento pode ser aproveitado mesmo com todas as mazelas, todas as dúvidas que surgem pelo caminho e todas as bobagens que fazemos!

Eu havia chegado à idade em que a gente se pergunta o que fez da própria vida, o que queria ter feito dela. Tinha a impressão de não ter vivido a minha vida, de tê-la sempre observado à distância, de só ter desenvolvido um lado de mim mesmo, e de ser pobre como pessoa. Você era e sempre tinha sido mais rica do que eu. Você se desenvolvia em todas as suas dimensões. Estava firme em sua vida, enquanto eu sempre me apressara a passar à tarefa seguinte, como se nossa vida só fosse começar mais tarde.”

Merece ser lido por ele enumerar as qualidades da esposa e reconhecer os erros cometidos ao longo dos quase sessenta anos vivendo juntos e pela reflexão que tudo isso nos traz. É curto, rápido e me fez pensar que no final, todos queremos encontrar um amor.

“Você é o essencial sem o qual todo o resto, importante apenas porque você existe, perderá o sentido e a importância.”

35. Amigos, amantes, chocolate

Alexander McCall Smith, 240p.20220622_115728

As mãos do autor com sua obra em Edimburgo

O livro me prendeu por diversas razões, uma delas foram as cenas descritas pelas ruas de Edimburgo. Outra foi a própria trama que envolve um transplantado de coração e visões. Claro que há sentimentos confusos de amor e amizade. Há um pouco de filosofia, família e muitos temas clichês, mas trata-se de um romance, portanto tudo isso é esperado.

Nem sempre queremos que aqueles por quem ansiamos saibam que ansiamos por eles, sobretudo se o desejo é impossível ou inconveniente.

Nele, uma mulher (claro que rica, na maioria das vezes assim é), editora de uma revista, cuida da delicatéssen da sobrinha por uma semana e lá conhece um cliente que recebeu um coração e passou a ser perseguido por visões. Ela sente-se responsável por descobrir o mistério envolvido naquilo tudo e acaba sendo invasiva no meu ponto de vista, mas ficção, né?

Se as pessoas não sabem quem somos, naturalmente valemos menos para elas.

A maioria das ações, a meu ver, ficaram sem desfecho e não para nos dar oportunidade de imaginação, mas sim (tive a impressão) de que o autor não sabia o que fazer com aqueles personagens e aquelas situações: a sobrinha desaparece da história de repente, o italiano tem desfecho ridículo, a invasão a vida de duas famílias sobre o transplante ficam pairando no ar, a morte de um rapaz fica totalmente solta e sem desfecho e muito mais. Por tudo isso, eu não achei que foi uma leitura que valeu. Estava indo bem e de repente, desandou. Pareceu que o autor teve que terminar a escrita logo por questão de contrato ou saco cheio mesmo. Aliás, de onde tiraram esse título? Ainda estou procurando a relação com o texto!

Havia um sem-número de injustiças e dificuldades neste mundo, mas também pequenos pontos de luz, onde as trevas eram expulsas.

Só valeu pelas caminhadas por locais de Edimburgo, cidade que não conheço!