127. Noite em Caracas

Karina Sainz Borgo, 238p.

“…conhecer é modificar a própria ignorância.” Noite em Caracas

Sabe quando você se envolve com a história e a consome de uma vez? Pois é, esta foi assim! Tanta desgraça acontecendo ao mesmo tempo que acabei me vendo torcendo para dar certo os planos errados da protagonista.

Uma mescla de revisões da vida passada e a atual descrevendo a saga de uma mulher em meio a uma revolução em um País que não parece resistir ao desaparecimento.

Na trama, que se passa em plena guerra civil na cidade de Caracas, uma mulher perde sua mãe e após o funeral tem o apartamento invadido. Ela acaba entrando no apartamento vizinho e então, em meio a luta, aos horrores, acompanhamos as incertezas e medos daquela que apenas quer sobreviver em um mundo que ela não mais reconhece e tem que recomeçar.

Trata-se do romance de estreia da autora e alguns episódios são inspirados na vida real, mas trata-se de uma ficção. Com capítulos curtos a leitura fluiu e rendeu. Uma mistura de estilos em um vai e vem de uma trama interessante que não sei até que ponto é real na Venezuela atual, local de nascimento da autora.

Foi uma boa leitura e foi ótimo incluir uma autora venezuelana no meu “repertório”.

Divirtam-se!

126. O jardim secreto

Francis Hodgson Burnett, 256p. O jardim secreto

Um clássico que de repente tornou-se o “queridinho” de muitos e eu também descobri e cá estou!!!

A autora é mais conhecida por seus livros infantis e este não é muito diferente. Literatura juvenil onde a protagonista, uma menina que torna-se órfã, muda-se da Índia para a Inglaterra para viver com seu tio que vive em uma mansão com quase 100 quartos e com o qual ela mal encontra. Ela é mantida em dois quartos e tem apenas pequena convivência com alguns dos empregados, pois nem o tio procura conhecê-la.

Em um vai e vem pela propriedade ela começa a descobrir valores e também um jardim que estava trancado devido a velha fórmula “drama familiar”. Acompanha a trama um mistério leve que logo é desvendado e mostrou-me um enredo daqueles “fofos”, sabe?

Sou antiga e gosto dessas fórmulas antigas (rsrsrs). A leitura foi fluindo de forma suave, encantando meus dias atribulados e acalmando as outras leituras, algumas pesadas, outras estranhas, outra difícil pelo tempo histórico, mas essa ia acalmando meu coração.

Um jardim acaba transformando a vida de toda uma região de forma mágica. Uma graça. Uma leitura bem leve, gostosa e que vale a pena!

125. Livro de receitas para mulheres tristes

Héctor Abad, 141p.

“Assim como o ar preenche o espaço entre as coisas, a melancolia preenche os intervalos entre uma alegria e outra.” (Leopardi)

Livro de receitas para mulheresParecia que eu estava lendo um guia de poções de bruxarias com beberagens, infusões, plantas, cozidos, caldos… me sentia usando a colher para mexer a poção do caldeirão e ria sozinha.

Há bastante ironia nos textos curtos. Alguns  divertidos, outros nem tanto. Uma sequência de conselhos-bruxos entre piadas e reflexões. Fala de angústia, luto, solidão, mau hálito, alguns pequenos incômodos, entre outros.

Como diz a contracapa: “…um ensaio de feitiçaria”. Meu companheiro diz que meu veículo de locomoção, imagina quando ele descobrir que já avaliei receitas para encomendar o melhor caldeirão?!?!? Rsrsrsrs…..

124. A sêde

Assia Djebar, 144p. A sêde

Ao longo da leitura eu tinha certeza de que estava lendo Françoise Sagan de tão parecida que achei a escrita. Mas quem seria Assia Djebar? Uma autora de nacionalidade argelina e foi por causa disto que comprei este livro, afinal como citei em outros posts estou sentindo necessidade de sair do quadrado predominante das leituras que situam-se entre EUA, Inglaterra, França e Brasil e ando deliciando-me com a busca e com as surpresas!

A trama ocorre em um balneário argelino perto da capital e envolve uma jovem bem a frente do seu tempo com “sede” de algo mais do que a vida, da década de 1950, lhe propunha. Ela encontra por lá uma antiga amiga que agora está casada e um outro amigo. Neste clima começam os dilemas da trama que é muito interessante, com uma personagem bem vilã.

Comprei este volume em um sebo e nem posso explanar a alegria de ter em mãos um livro que traz na folha de rosto o nome da antiga dona e a data: 1962. Adoooro!

123. A vegetariana

Han Kang, 171p. A vegetariana

Literatura contemporânea têm sido complicado. Na maior parte das vezes acabo sentindo que tem que existir algo erótico para que a história circule e, muitas vezes, sinto que a parte erótica não serve absolutamente para nada, mas há exceções?? Claro que sim. Além disso, os temas parecem confusos, em um entra e sai de ideias sem sentido que não fazem a minha cabeça. Com esse, confesso, comprei sem nem ler a sinopse, apenas pela fama e achei interessante todo o enredo. O assunto “foco” da obra pareceu-me meio chocante. A trama envolve uma moça de vida normal que, de repente, torna-se vegetariana devido aos seus sonhos e isso causa um transtorno absurdo em toda a sua família direta, inclusive lhe rendendo uma separação. O que chocou-me foi saber que há mentes como a dessa autora que conseguem imaginar histórias e cenas tão estranhas. Admiro!!!

Valeu a leitura com a sensação de incômodo, pois acho que esta é uma das funções da literatura – vez ou outra tirar-me da zona de conforto, valeu conhecer uma autora sul-coreana e valeu a empatia que senti, em muitos momentos, pela personagem principal.

Quando a escrita, confesso, achei deslumbrante!

Fiquem com a jovem Yeonghye!

122. O perfume da folha de chá

Dinah Jefferies, 431p.

O perfume da folha de chá1925. Uma jovem inglesa casa-se com um aristocrata inglês produtor de chá no Ceilão onde ela passa a viver, encontra mistérios e onde ela também acaba por ter segredos.

A leitura flui através de uma escrita boa, mas por melhor que seja, normalmente não tenho muita paciência para romances, pois a protagonista, na maioria das vezes, está envolvida em muito sofrimento e só chora e chora. A vida é isso, um constante entra e sai de alegrias, mas nos romances é tanta tristeza, tanta lágrima que se torcermos o exemplar desce uma cachoeira e eu não me envolvo, aliás me cansa. Mas como a maioria diz que este livro é maravilhoso e como eu sou bem teimosa, segui!

Achei a protagonista fraca, uma mulher “bobinha”, sem pulso que me deu preguiça e raiva por ela deixar acontecer o que aconteceu na trama. Ler quase 300 páginas  de “menina mimada” sendo manipulada por um ser abominável não é a minha praia. Essa ingenuidade besta destas protagonistas românticas não é meu estilo de leitura. A verdade foi que eu achei a personagem principal tão sem atitude que entre uma leitura e outra eu precisava de fôlego, então eu lia um dia e deixava o livro de lado uns dias para retornar a ele sendo que, do meio para frente eu ia lendo na expectativa de que a coisa melhoraria e a protagonista iria desabrochar. E….. ops….. sem spoiler.

Até percebi uma intenção de iniciar algum assunto mais polêmico como abuso, depressão, mas o assunto não segue, não há continuidade.

O que mais me surpreendeu foi que até ler, só ouvi bons comentários sobre este livro – ele foi bestseller internacional – e eu fiquei me culpando por não estar gostando – rsrsrs. Na verdade acredito que para quem gosta de um romance ele seja interessante. Eu que gosto de história real entremeada nas passagens do livro, mesmo que sejam passagens romanceadas, achei que faltou muito. Em qualquer época em que se escreve algo pode-se usar e abusar dos fatos históricos para desenvolver assuntos polêmicos, situar problemática na obra e afins e os fatos sendo apresentados em uma época conturbada no Ceilão, isso não foi bem desenvolvido pela autora. Além disso, eu queria aprender mais sobre plantação de chá, o que também não aconteceu. Mas opinião cada uma tem a sua, leia para tirar suas conclusões e depois venha me contar o que achou!

se você gosta de romance de época e quer ver a história de um casal apaixonada enfrentando as dificuldades da vida sem muito esforço, pode gostar do livro. Ele foi um bestseller internacional e vendeu muito bem na Inglaterra,

121. Djamiliá

Tchinguiz Aitmátov, 84p. Djamiliá

Ando procurando autores não tão óbvios para incluir na minha lista de conhecidos, e desta forma, sair da mesmice dos EUA, Inglaterra, França, Brasil… e em alguma dessas buscas vi esse nome e pensei: diferente, de onde será? Tive uma grande e grata surpresa, pois o escritor nasceu em 1928 no Quirquistão, último País em que estive nas minhas últimas férias em que pude sair do País (pré-pandemia). Fiquei tão feliz!!! É bem difícil encontrar obras em português de diferentes autores do mundo, talvez por primeiro ser difícil a tradução e segundo por não terem saída por não serem conhecidos. Mas, por que não são conhecidos? Talvez por não serem apresentados, correto?

Não importa, o que importa é que este foi um dos meus achados e feliz, encarei….

Aprendi que este autor era um dos mais lidos e amados da antiga URSS, que suas obras foram traduzidas para todas as línguas conhecidas das nacionalidades soviéticas e que sua obra atravessou fronteiras e teve edições em quase 70 idiomas, fora da antiga URSS.

Na trama que inicia-se com a descrição de um quadro pelo seu autor, três jovens circulam pelas estepes de uma região do País, em suas carroças, transportando trigo. Um deles, a moça é a que dá nome ao livro, mais um jovem taciturno – Daniian, que de uma forma diferente os surpreende e o terceiro jovem, o “Kitchinê balá” ou cunhado dela que é o narrador da trama e pintor do quadro mencionado anteriormente. A história conta como o quadro surgiu.

A leitura é bem legal. Fluiu muito bem, talvez até pela minha felicidade e curiosidade por ter em mãos um autor que eu nunca havia ouvido falar e de tanto sucesso em um mundo distante de mim!

Avaliando a obra percebe-se de que trata-se de uma história de amor que se passa no meio das belas montanhas do Quirquistão. Sim… foi a surpresa da minha viagem, pois quando estava pousando em Bishkek, a capital eu vi da minha janela a bela formação de montanhas e ao tomar a condução do aeroporto para a cidade, as montanhas me acompanhavam, circulando toda a cidade, algo lindo, esplendoroso que eu não sabia e nem esperava. Foi uma emoção maravilhosa e com o livro eu pude colocar o que lia dentro daquelas imagens que guardei da País. Curti! Muito!

“… não será o amor um tipo de inspiração como a do pintor e a do poeta?”

120. A terceira xícara de chá

Greg Mortenson e David Oliver Relin, 344p. A terceira xícara de chá

Vamos ao Baltistão (Paquistão) construir uma escola entre as montanhas daquela cordilheira repleta de picos extremos? É disso que se trata este livro. Diz tratar-se de uma história real, mas confesso que no final fiquei com muitas dúvidas de algumas passagens.

Acompanhamos a história do rapaz que vai atrás do sonho de educar as crianças de locais remotos e o faz com dedicação e pouco dinheiro. Quando a ideia começa a crescer, a coisa se complica. Como isso é evidente, né? É só envolver mais pessoas que o conjunto que era simples, ao invés de tornar-se mais simples, fica mais e mais complicado. Quantas empresas que eram sucesso, crescem e vão à falência? Ou perdem a sua essência e são vendidas? Perde-se o rumo, o controle e eu acho que até a alegria do início.

No livro a trajetória dele é bem interessante. Tudo iniciou-se antes da queda das torres gêmeas em New York e ele desenvolveu o projeto para algumas regiões em que o talibã tomava conta e ele estava em uma delas quando ocorreu o atentado e então, dureza conseguir sair do local.

Dentro do nosso mundinho, não é possível imaginar as dificuldades nestes locais remotos, e este livro nos mostra algo tão, tão diferente do que conhecemos. Mostra valores diferentes, culturas diferentes, essas coisas de aventuras no desconhecido deste mundo, sendo muito legal ver que, mesmo com as dificuldades, as pessoas se envolvem e desejam que aquele sonho se concretize e auxiliam da forma que podem.

A história é interessante, entretanto, alguns anos depois de publicada foi muito questionada e ocorreram acusações e processos contra os autores, um deles o protagonista e mais dramas e dramas que eu não fui fundo entender.

Sempre que leio histórias reais, meu gênero preferido, eu não considero, na maioria das vezes, 100% real, há muito para se enfeitar, romancear, maquiar, tornar mais bonito e/ou mais agradável e/ou difícil, mas penso que se algum gesto humanitário ou de realização pessoal saiu dali, ótimo!!!

O livro é bom, os fatos interessantes, mas não flui com facilidade. Pelo menos para mim não fluiu. Fui lendo aos poucos e assim conhecendo parte do Afeganistão e do Paquistão, locais muito, muito distantes da minha realidade, além do que, os fatos começaram a ser um tanto quanto fantasiosos, tanto que eu fui pesquisar como citei aí em cima.

Valeu a leitura? Sim… valeu.

119. Seu Ibrahim e as flores do corão

Eric-Emmanuel Schmitt, 79p.

“Sorrir é o que nos faz felizes.”

“A lentidão é o segredo da felicidade.”

Seu IbrahimUm rapazola judeu e um senhor muçulmano desenvolvem uma amizade inspiradora em Paris. São vizinhos e é Bridget Bardot quem, sem querer, os aproxima.

A escrita é simples e flui facilmente. A história transformou-se em um filme com atuação do famoso Omar Sharif como Seu Ibrahim. Não assisti ao filme, portanto não posso falar nada sobre ele, mas o livro é interessante, envolvendo as ruas dos subúrbios da cidade, prostitutas, os desafios para a mente de uma criança, a simplicidade de um dono de empório, a vizinhança. Muito bacana!

Na verdade este volume faz parte de uma trilogia chamada “Trilogia do Invisível” onde as histórias falam sobre os fundamentos de três grandes religiões; este é o segundo da série e têm ênfase no islamismo, o que de quebra, vamos aprendendo com o Seu Ibrahim. O primeiro “Milarepa” refere-se ao budismo e o terceiro “Oscar e a senhora Rosa” ao cristianismo. Gostei deste que encontrei jogado em uma banquinha de um sebo por um preço módico e tentei encontrar os demais, mas o valor era tão alto que ainda não deu para colocá-los aqui na estante. Enquanto isso me diverti demais e aprendi muito com a leitura deste volume! Aproveitem também!

118. Coração de vidro

José Mauro de Vasconcelos, 78p.

“Era a infância. O mundo de sonhos se desenrolando como as nuvens mais belas que vagueiam os sonhos do céu.” Coração

Um cenário e mais quatro histórias nesta preciosidade.

Na fazenda (cenário) podemos visitar o azulão (primeira história), o Clóvis – peixinho (segunda história), o potrinho (terceira história) e a árvore Candoca (quarta história), com todos nos ensinando como a liberdade é algo bom e como a natureza é sábia!

Uma linguagem suave em histórias simples, mas repletas de ensinamentos.

Sabe aquelas leituras reconfortantes? Não que tenham apenas finais felizes, nada disso; apenas, leitura agradável em homenagem à natureza.

Recomendo.