66. Cinzas na neve

Ruta Sepetys, 240p. Cinzas na neve

Fui convidada pela Fer Martins do “Jardim Secreto Ler é Sonhar” para uma leitura conjunta e ela me apresentou duas opções, os dois enredos se passavam na II Guerra, mas uma das opções, fugia de Auschwitz, campos de concentração nazistas, guetos e todo aquele horror, mas que nos apresentava outro horror não tão comentado da época, a Rússia, a perseguição nos países russos, os gulags siberianos do Stálin e o melhor, a visão dos países bálticos – aqueles três que eu confundo – Estônia, Letônia e Lituânia. Escolhi o segundo de cara e sem qualquer arrependimento, pela história, cenas e pela forma de escrita, com linguagem simples e diagramação gostosa.

“Um empecilho. Será que não passávamos disso?”

O ano inicial do texto é 1941. Uma garota, Lina, sua mãe e irmão são presos (o pai era professor universitário) e colocados em um trem como gado para um destino desconhecido. Mas, para chegar até o trem, aparecem histórias terríveis. No trem, a coisa não é muito diferente. Frio, fome, morte, insalubridade, gente sem piedade, outras fraternas, aquela miscelânea de eventos que sempre me fazem pensar: são/foram pessoas como eu, que foram tiradas de repente de uma vida confortável e jogadas em um canto qualquer, sem o mínimo de qualquer coisa – alimento, conforto, higiene – e sem terem culpa de nada, apenas porque algum idiota se julga melhor que toda a humanidade e há outros idiotas que acreditam neles.

A primeira etapa é a ida até um kolkhoz, uma fazenda coletiva e nela, eles iriam trabalhar cultivando beterrabas que seriam encaminhadas para outro canto. Lina começa a entender o comunismo.

Foi muita tristeza ler: “Meu estômago ardia de fome. Eu vivia sonhando com o mingau cinza que nos davam no trem.”

Há algum tipo de violência em cada página. Há humilhação. Todo e qualquer sentimento que possa acabar com a dignidade de qualquer ser-humano aparecem ao longo das páginas. Mas, nossos personagens são surpreendentemente fortes e lutam pela vida, agarrando-se a alguma esperança.

“Nós estávamos no fundo do oceano, mas ainda assim, tentávamos alcançar o céu.”

Ao longo do trajeto, faço descobertas geográficas: Bulun, Stolbai – ambas no Ártico (oi?!?), mar de Laptev…. não conhecia absolutamente nada!!! Lindo quando amplio horizontes assim!

“O lugar era totalmente desabitado e não havia sequer um arbusto ou uma árvore, apenas a terra batida e a margem de um rio sem fim. Tudo o que nos cercava era a tundra e o mar de Laptev.”

Lina, a filha é uma desenhista e observa o seu redor, colocando no papel muitas cenas e pessoas para jamais serem esquecidas. Alguns desenhos ela tenta, de alguma forma, que alcancem o pai, separado da família antes deles serem presos. Esses desenhos serão úteis em algum futuro.

“Passamos a nos conhecer graças a nossos anseios e a nossas preciosas lembranças.”

Poucos livros abordam o gulag e foi uma surpresa esse trazer um pouco do que eram essas “prisões” para a literatura.

O livro é muito bom ao trazer essa história para todos. Nem tudo o que eu gostaria acontece e foi me dando agonia ver que faltava poucas páginas para finalizá-lo e eu tinha ainda tantas questões a serem respondidas. Segui.

“Quando me achava à beira do abismo da desesperança, ele voltava para o outro lado por causa de alguma pequena bondade.”

Os países bálticos ficariam sob domínio soviético 50 anos e a história de como eles conseguiram a liberdade é uma das mais inusitadas e bonitas que já li. Assim como a autora do livro sugere, eu sugiro também, que vocês façam uma pesquisa e descubram/se surpreendam com uma das cenas deste fato, a libertação.

Gostei muito desta leitura. Obrigada Fer Martins pelo convite e por me apresentar a obra.

Recomendo!

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