70. Como se apaixonar

Cecelia Ahern, 348p.20220618_172506

Escritora irlandesa então, encarei para situar um pouco mais da literatura desse País que estava em meu caminho.

Na trama, uma jovem, nos apresenta os acontecimentos de sua vida após impedir o suicídio de um desconhecido em uma ponte e isso foi o mais divertido. A minha imaginação da tal ponte e quando dei de cara com a ponte real (que é a que está na imagem ao lado), que por sinal, ocupa a capa do livro, mas eu jamais imaginaria que seria ela pois, a minha imaginação foi bem mais longe…. para mim, a tal da ponte era quase uma “Ponte Rio-Niterói” ou uma “Golden Gate” – rsrsrsrs – quando minha sobrinha me apresentou a tal da ponte, cai na risada…. nossa imaginação é um caos, mesmo! Foi divertido apesar da frustração.

“A ausência faz o coração sentir mais afeto.”

Bom, a nossa protagonista consegue fazer com que o homem suicida adie tal decisão por duas semanas e então, começam as peripécias, contratempos e histórias. Eu sabia que caminho tomaria, diante de um chicklit, mas lógico que não me importei. Li como um passatempo divertido! Afinal, há além do drama do rapaz, os próprios dramas da protagonista.

“… não se pode perseguir a felicidade. A alegria acontece de um jeito espontâneo… Não é uma fórmula genérica, passo a passo…”

A trama se desenvolve dentro de uma cronologia sem idas e vindas, em um espaço de tempo curto e vai apresentando personagens aqui e ali. Ela, como muitos de nós, foge dos próprios anseios para tentar salvar o outro. Uma verdadeira fuga que eu realizo vez ou outra, não posso negar!

O ritmo é bom, a linguagem é simples e ocorreu exatamente o que eu esperava. Isso não me frustra, apenas eu não me envolvo totalmente com o que estou lendo. Não colocou a autora em meu “hall” de quero ler algo mais, mas foi bom para conhecer um pouco pois, vejo muitas obras dela pelos espaços literários que passo.

Foi uma leitura leve! Para quem gosta de um romance, não decepcionará pois, acredito que possui todos os ingredientes: uma personagem com frustrações, um homem lindo, um problema a ser sanado, uma paixão, dúvidas, contratempos, desencontros e assim segue. Cenas de drama intercaladas com comédia. Não dá para se aprofundar e ficar filosofando sobre os fatos apresentados. Como sempre, eu simplesmente desliguei e fingi que estava em outra “vida”. Na verdade, não há nada novo neste romance, mas que entretém uma porção de leitores pelo mundo.

Ah…. livros de autoajuda são citados como conselheiros ao longo da trama!

Valeu!!!!

69. O aprendiz de feiticeiro

Mário Quintana, 72p. O aprendiz de feiticeiro

“E, de repente, / Todas as coisas imóveis se desenharam mais nítidas no silêncio / As pálpebras estavam fechadas. / Os cabelos pendidos. / E os anjos do SEnhor traçavam cruzes sobre as portas.” (Momento)

A bibliografia de Quintana é surpreendente. Esta obra surgiu/foi publicada em 1950, a primeira em 1940 e apesar de eu ter gostado de muitos poemas, outros não consegui entrar no clima e compreender e comparando com o que já conhecia do autor, gostei mais do “80 anos de poesia”, a antologia publicada quando ele fez 80 anos onde participei mais dos versos e passei a adorar a escrita do autor. Talvez por ter textos de fases mais maduras, vai saber!

“O poema é uma pedra no abismo, / O eco do poema desloca os perfis: / Para bem das águas e das almas / Assassinemos o poeta.” (O poema)

Por gostar do poeta, acabei encontrando um número razoável das obras dele na Biblioteca da cidade e pretendo, aos poucos, ir lendo uma aqui e outra ali. Comecei por esta.

Não sei por que, sorri de repente / E um gosto de estrela me veio na boca…/ Eu penso em ti, em Deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos.” (Excerto de “Noturno”)

Ele nasceu em 1906 em Alegrete, jovem foi estudar em Porto Alegre. Trabalhou na Livraria do Globo por 3 meses, mas retornou a Alegrete e trabalhou na farmácia de seu pai. Logo perdeu a mãe e no ano seguinte, o pai no mesmo ano em que um poema seu é publicado na revista “Para Todos” do Rio de Janeiro. Em 1929 ingressou na redação do jornal “O Estado do Rio Grande” em Porto Alegre. Colabora também com a “Revista do Globo”. Sua primeira tradução ocorreu em 1934. Traduz Proust, Virginia Woolf, Aldous Huxley, Joseph Conrad, entre outros.

“Vou andando feliz pelas ruas sem nome…. / Que vento bom sopra do Mar Oceano! / Meu amor eu nem sei como se chama, / Nem sei se é muito longe o Mar Oceano…”

Em 1940 publica “A rua dos cataventos”, livro de sonetos, pela Editora Globo, de Porto Alegre. Em 1946, publica “Canções”, em 1948 “Sapato florido” e “O batalhão das letras”. Surge “O aprendiz de feiticeiro” em 1950, “Espelho mágico” em 1951, “Inéditos e esparsos” em 1953 e “Poesias” em 1962. Foram passando os anos e ele publicando até a sua morte em 1994, no dia 5 de maio.

“Na volta da escada, / Na volta escura da escada. / O Anjo disse o meu nome. / E o meu nome varou de lado a lado o meu peito. / E vinha um rumor distante de vozes clamando clamando… / Deixa-me! / Que tenho a ver com as tuas naus perdidas? / Deixa-me sozinho com os meus pássaros… / com os meus caminhos… / com as minhas nuvens…” (O anjo da escada)

Teve seus poemas musicados. Recebeu o título de “Cidadão Honorário de Porto Alegre”, foi homenageado pela prefeitura de Alegrete. Também foi Patrono da XXXI Feira do Livro de Porto Alegre e muitas outras homenagens ocorreram em sua vida.

Sempre vale a pena conhecer Quintana, ainda mais por ser um poeta brasileiro. Vocês sabem que gosto muito de incluir literatura nacional em minhas “andanças literárias”. Incluam também!

68. Sol de inverno

António Feijó, 156p.

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Espaço António Feijó – Parque dos Poetas / Oeiras – Portugal

O autor nasceu em 1859 em Ponte de Lima. Em 1883 formou-se em direito na Universidade de    Coimbra. Ingressou na carreira diplomática em 1886. Vem para o Brasil e é transferido para Estocolmo em 1891, casando-se com uma sueca Mercedes Lewin de Castro Feijó que falece em 1915. Ele, faleceu em Estocolmo em 1917.

A obra tem todas as características do parnasianismo que são apresentadas nas introduções (são mais de uma) deste livro. Iniciei a leitura com a certeza de que não entenderia ou acompanharia nenhum poema e qual não foi a minha surpresa que já os três primeiros eu queria compartilhar com vocês de tão amorosos que julguei e o melhor, eu os compreendi na íntegra!

Os poemas são deliciosos, carinhosos. Lindos! Fiz tantas marcações no livro que realmente não é possível compartilhar todas com vocês! Recomendo a leitura para conhecer de perto a obra.

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Poema de abertura da obra

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67. Adeus, minha querida

Raymond Chandler, 310p. Adeus, minha querida

Um dos presentes de aniversário deste ano, de um amigo literário. Ele quem positivamente me apontou esse autor e eu tinha entre as prateleiras um livro dele, mas acabei não conseguindo ler. Com ese presente, sem mais desculpas, Raymond Chandler e o detetive Philip Marlowe entraram no meu acervo literário.

A editora deste exemplar é a minha queridinha Alfaguara, portanto ótima diagramação. Sempre livros de qualidade.

“Tudo o que é escrito com vitalidade exprime essa vitalidade; não existem assuntos chatos, existem apenas mentes chatas. Todo homem, quando lê, foge de alguma outra coisa para se refugiar na página impressa; a qualidade desses sonhos pode ser questionada, mas a produção deles tornou-se uma necessidade funcional. Todo homem precisa fugir num certo momento à cadência mortal dos seus pensamentos íntimos. Faz parte do processo da vida entre seres pensantes.”

O protagonista, Marlowe é cínico e mulherengo. Com seu estilo, vive um dia de cada vez, mais me pareceu um anti-herói que qualquer outra coisa.

Nesta trama, o detetive segue uma pista falsa e dá de cara com um segurança de entrada de bar, um ex-presidiário que está atrás de sua amante e lá vai Marlowe ajudar. O grandalhão segurança está disposto a tudo para encontrar sua musa, uma cantora de cabaré. O investigador acaba se encontrando em meio a chantagens e assassinato, charlatões e videntes, violência e corrupção.

O autor é um dos preferidos do meu amigo literário. Não fez minha cabeça. Talvez eu ainda tenha que ler mais Raymond Chandler para entrar no universo literário policial de Marlowe. Mas, obviamente que valeu a pena conhecê-lo.

66. Cinzas na neve

Ruta Sepetys, 240p. Cinzas na neve

Fui convidada pela Fer Martins do “Jardim Secreto Ler é Sonhar” para uma leitura conjunta e ela me apresentou duas opções, os dois enredos se passavam na II Guerra, mas uma das opções, fugia de Auschwitz, campos de concentração nazistas, guetos e todo aquele horror, mas que nos apresentava outro horror não tão comentado da época, a Rússia, a perseguição nos países russos, os gulags siberianos do Stálin e o melhor, a visão dos países bálticos – aqueles três que eu confundo – Estônia, Letônia e Lituânia. Escolhi o segundo de cara e sem qualquer arrependimento, pela história, cenas e pela forma de escrita, com linguagem simples e diagramação gostosa.

“Um empecilho. Será que não passávamos disso?”

O ano inicial do texto é 1941. Uma garota, Lina, sua mãe e irmão são presos (o pai era professor universitário) e colocados em um trem como gado para um destino desconhecido. Mas, para chegar até o trem, aparecem histórias terríveis. No trem, a coisa não é muito diferente. Frio, fome, morte, insalubridade, gente sem piedade, outras fraternas, aquela miscelânea de eventos que sempre me fazem pensar: são/foram pessoas como eu, que foram tiradas de repente de uma vida confortável e jogadas em um canto qualquer, sem o mínimo de qualquer coisa – alimento, conforto, higiene – e sem terem culpa de nada, apenas porque algum idiota se julga melhor que toda a humanidade e há outros idiotas que acreditam neles.

A primeira etapa é a ida até um kolkhoz, uma fazenda coletiva e nela, eles iriam trabalhar cultivando beterrabas que seriam encaminhadas para outro canto. Lina começa a entender o comunismo.

Foi muita tristeza ler: “Meu estômago ardia de fome. Eu vivia sonhando com o mingau cinza que nos davam no trem.”

Há algum tipo de violência em cada página. Há humilhação. Todo e qualquer sentimento que possa acabar com a dignidade de qualquer ser-humano aparecem ao longo das páginas. Mas, nossos personagens são surpreendentemente fortes e lutam pela vida, agarrando-se a alguma esperança.

“Nós estávamos no fundo do oceano, mas ainda assim, tentávamos alcançar o céu.”

Ao longo do trajeto, faço descobertas geográficas: Bulun, Stolbai – ambas no Ártico (oi?!?), mar de Laptev…. não conhecia absolutamente nada!!! Lindo quando amplio horizontes assim!

“O lugar era totalmente desabitado e não havia sequer um arbusto ou uma árvore, apenas a terra batida e a margem de um rio sem fim. Tudo o que nos cercava era a tundra e o mar de Laptev.”

Lina, a filha é uma desenhista e observa o seu redor, colocando no papel muitas cenas e pessoas para jamais serem esquecidas. Alguns desenhos ela tenta, de alguma forma, que alcancem o pai, separado da família antes deles serem presos. Esses desenhos serão úteis em algum futuro.

“Passamos a nos conhecer graças a nossos anseios e a nossas preciosas lembranças.”

Poucos livros abordam o gulag e foi uma surpresa esse trazer um pouco do que eram essas “prisões” para a literatura.

O livro é muito bom ao trazer essa história para todos. Nem tudo o que eu gostaria acontece e foi me dando agonia ver que faltava poucas páginas para finalizá-lo e eu tinha ainda tantas questões a serem respondidas. Segui.

“Quando me achava à beira do abismo da desesperança, ele voltava para o outro lado por causa de alguma pequena bondade.”

Os países bálticos ficariam sob domínio soviético 50 anos e a história de como eles conseguiram a liberdade é uma das mais inusitadas e bonitas que já li. Assim como a autora do livro sugere, eu sugiro também, que vocês façam uma pesquisa e descubram/se surpreendam com uma das cenas deste fato, a libertação.

Gostei muito desta leitura. Obrigada Fer Martins pelo convite e por me apresentar a obra.

Recomendo!

65. Dublinenses

James Joyce, 222p.

Como muitos citam, talvez seja uma boa porta de entrada para as obras de James Joyce, pois trata-se de uma coletânea de contos. Como parece que em todas as obras dele, a cidade natal, como o próprio título menciona, Dublin, é o foco.

São 15 contos demonstrando algumas facetas da população da cidade com reflexões dos costumes, arte, política, sociedade e outros temas que permeiam as cidades e a sociedade em geral. Alguns me fizeram sentir como se estivesse ao lado da personagem, acompanhando o evento e isso me pareceu incrível. Para conseguir essa sensação, a escrita do autor.

“Tinha pelo marido o mesmo respeito que lhe inspiravam os Correios e Telégrafos: uma instituição ampla, segura e imutável.” (p.140 – Conto: “Mãe”).

Histórias fáceis de se acompanhar e mesmo de se sentir. Com viagem marcada para Dublin, foi especial ler esse livro antes de colocar os pés na cidade.

Valeu!!!

64. Hilda Furacão

Roberto Drummond, 298p.Hilda Furacão

Foi um seriado famoso na TV brasileira há um bom tempo e eu que estava interessada em obras que se passassem em Minas Gerais, durante a pesquisa, me surpreendi com este título na lista! Vamos lá: não assisti a minissérie, só lembro de ser com a belíssima Ana Paula Arósio no papel de Hilda e o famoso Rodrigo Santoro como um padre, que hoje sei, se chamava Malthus. Não sabia que era baseada em um livro e muito menos a época que retratava mas, descobri.

“O que ele sente ao ver os olhos dela? / Sente uma vontade de ser bom, de amar os simples e os humilhados. / O que ele vê dentro dos olhos dela? / Vê a dor do mundo.”

As cenas se dão em Belo Horizonte e arredores. Hilda é uma prostituta famosa, há muita política e jornalismo ao longo das páginas, Malthus é idolatrado quase como um santo e o nosso narrador-autor escreve de forma fácil de segui-lo.

O livro é bom. Traz parte da história do golpe de 1964 mas, para aqueles que desejam ou esperam, como eu esperava, acompanhar uma história de amor entre a prostituta e o padre, esqueçam. Ela aparece bastante ao longo das páginas, afinal olha o nome do livro, já ele e sua mania de geleia de jabuticaba, nem tanto. Isso me decepcionou um pouco pois, fala tanto, tanto de política, comunismo, governo, assuntos que não são a minha especialidade que, por vezes, não acompanhei. Por outro lado, foi uma oportunidade de relembrar nossa história que vai se perdendo dentro da minha cabeça. Sem contar que, por eu conhecer um pouquinho de BH, pude acompanhar algumas cenas “in loco”, o que é muito bom!

“O que você chama de amor? / O que um homem sente por uma mulher e vice-versa e que é maior do que tudo e nos transforma no louco mais são da face da terra.”

O cenário BH, serve para contar a história misteriosa dela, daquela que enfeitiça os homens, uma mulher que afeta toda a cidade, que vive no quarto 304 do Maravilhoso Hotel.

“Eu vim não foi nem porque eu te amo. Eu vim …. porque eu descobri o amor que sinto por você, é um amor tão grande que não precisa ser correspondido para ser um amor feliz. Porque o amor que eu sinto por você basta por si só.”

Eu realmente gostei de incluir este livro na minha lista de leitura. Adorei rever BH e parte da história do Brasil, de uma época de poucos anos antes de eu nascer. Um rebuliço!!! Gosto quando incluo literatura nacional no meu “repertório” e ainda bem que faço isso constantemente.

63. O fantasma de Canterville e outras histórias

O fantasma de CantervilleOscar Wilde, 144p.

“… as mulheres foram feitas para serem amadas, não para serem compree ter uma renda fixa do que ser fascinante. 

A cena: eu, sentada no “meu spot” no calçadão, lendo concentrada e rindo sozinha. Sim, porque a história de um fantasma tentando atormentar/assombrar uma família e sofrer o reverso é hilária. Tenho vontade de descrever algumas passagens mas, se eu fizer isso, a leitura perderá a graça.

Neste volume, não há apenas o famoso conto do fantasma, mas sim, quatro:

  1. O fantasma de Canterville que dizem ser uma crítica a sociedade que o autor via com humor. Fato!!!
  2. O crime de Lorde Arthur Savile: envolve uma quiromante e um homem que acaba acreditando nas palavras dele e muda seus dias para atender o que lhe foi previsto. Ocorre alguma confusão, característica do autor e o final, em parte diferente e, em parte igual ao que eu esperava;
  3. O milionário modelo: um rapaz de boa índole precisa de dinheiro para casar-se. Ao longo das páginas, rapidamente entendemos o que irá ocorrer, mas é uma boa história de empatia e solidariedade;
  4. A esfinge sem segredo: um amigo apaixonado por uma mulher misteriosa e assim, segue a história!

“A maioria dos homens e mulheres são forçados a desempenhar papéis para os quais não tem qualificação.”

Foi uma leitura tranquila. A edição da Lafonte tem custo baixo mas, atende bem o que é proposto. A diagramação é gostosa, o papel tem boa qualidade, as páginas são amareladas (as brancas me cansam mais a leitura). Tudo positivo! E Wilde tem uma escrita bem tranquila, uma linguagem acessível e as tramas que chamam atenção. Confesso que nenhuma superou a do “fantasma” que eu ri feito uma criança.

“Há sempre uma guerra na qual um homem pode morrer, alguma causa pela qual um homem pode dar a vida, e como a vida não lhe proporcionava nenhum prazer, então a morte não era nada tenebrosa. Que o destino se encarregasse de sua condenação. 

Para quem não conhece Wilde, dá uma ideia sobre o autor.

“O romance é privilégio dos ricos, e não a profissão dos desempregados. Os pobres devem ser práticos e prosaicos. É melhor ter uma renda fixa do que ser fascinante.”

Curti e recomendo.

62. Realidade e sonhos

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Muriel Spark, 150p.

Romancista escocesa que faleceu em 2006. Em 2008 entrou na lista do The Times dos 50 maiores escritores britânicos desde 1945. E eu, nunca havia ouvido falar, até que devido a viagem marcada para a Escócia, encontrar o nome dela dentro da lista de autores daquele País. Além disso, acabei encontrando esse volume por um preço acessível então, vamos conhecer alguma produção da famosa autora.

Seu estilo é conciso e apresenta humor negro. O protagonista deste título é um personagem chato e egocêntrico. Tom Richards. Um cineasta, casado com uma milionária que cai da grua em uma das cenas, se quebra todo e tem que ficar ausente por um tempo. Um cara chato e mimado. Ele me cansou e não foi pouco mas, aí que está a qualidade de escrita da autora. Ela consegue colocar no papel um certo “nojinho” que eu senti diante das atitudes dele pois, ele é acostumado a manipular os destinos, ser o centro das atenções e durante o período de recuperação tem que se adaptar aos demais que estão ao seu redor. Um verdadeiro mimado e chato, chato, chato!

Sem contar que o que está ao redor dele é uma miscelânea de valores estranhos. Uma esposa milionária que sustenta a ele, seus sonhos e tudo mais que está ao redor dela. Duas filhas: uma bonita e burra, enquanto a outra é feia e inteligente. Genros incompetentes e surgem taxista que vira terapeuta, diretor substituto que causa desconforto, casos, atrizes, entre outros itens que se mesclam e dão movimento as páginas do romance.

Foi legal conhecer a autora mas, por ora ficarei apenas com este título na lista!

61. Diário da tua ausência

Margarida Rebelo Pinto, 128p. Diário da tua ausência

A autora conhece um homem e eles se apaixonam. Até aí, tudo normal. Ela mora em Lisboa e ele em Londres. Um dia ocorre a ruptura e ela escreve essa longa carta. O título do livro já nos remete ao que vamos encontrar. Uma longa carta de amor, relembrando o que ficou na memória e todo o sentimento. O livro caminha entre as memórias e a filosofia da autora. É natural que todos filosofemos após o término de uma relação.

Eu gostei e obviamente que me encontrei em muitas filosofias e sentimentos. Nem todos gostam do formato, mas cada um com seu estilo, como sempre digo por aqui!

Não há muito o que dizer, é um clichê, mas vivemos em meio a muito clichê. Vou deixar excertos diversos.

Eu curti!

Excertos

“Hoje olho para o meu passado, esse emaranhado confuso e indistinto de recordações….”

“Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida. E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti.”

“Há poucas relações assim. As pessoas ficam juntas pelas razões erradas; para esquecer outras pessoas, para mudar de vida, porque acham que chegou a altura de fazer o que todos esperam que se faça; casar e ter filhos. Raramente ficam juntas de uma forma livre e totalmente sincera. Raramente se unem de uma forma pura e verdadeira, por amor.”

“A ideia do amor como sinônimo de casamente, e este, um passaporte para a felicidade, tornou-se uma indústria para a música, a literatura e o cinema.”

“Somos o nosso passado e ignorá-lo ou escondê-lo é uma forma de covardia.”

“A repetição dos mesmos gestos acaba por nos impregnar deles. Tudo em mim se habituara a ele, o meu corpo, o meu coração, os meus olhos, o meu sono.”

“… talvez seja uma mulher fora do meu tempo porque continuo a esperar das relações amorosas um espírito de compromisso e de continuidade que já não reconheço nos outros.”

“… a dor da perda não diminui com a lucidez nem se dissipa na razão. A dor tem vida própria e só o tempo e a generosidade da existência a podem apagar.”

“Apaixonamo-nos para nos podermos elevar do mundo como ele é, dos seus cinismos e da sua brutalidade inevitável. O amor serve para voar por cima das coisas más.”

“O amor cega-nos com toda a sua luz e força. Sabemos que estamos cegos, só nunca sabemos o quanto essa cegueira nos pode afastar da realidade.”

“Nada ilumina melhor uma mulher do que a paixão.”

“Acredito que o amor, nas suas variadas formas, se manifesta nos pequenos gestos.”

“Quando um homem ama uma mulher, esse amor cega-o. Só pensa no momento presente, aqui e agora. Quando uma mulher se apaixona por um homem, pensa sempre no futuro, agora e sempre. Somos seres diferentes no tempo e no modo.”

“Todas as mulheres, por mais seguras e maduras que sejam, precisam que cuidem delas; precisam de se sentir protegidas, porque isso é uma manifestação de amor e as mulheres precisam, acima de tudo, de se sentir amadas.”

“O passado, por mais triste que seja, é muito mais seguro do que o presente, porque o conhecemos.”

“… a verdadeira vida é a que se constrói todos os dias, feitas de gestos, atenções e cuidados, pequenos nadas que são quase tudo.”

“Amor é muito mais do que hábito, é sobretudo tempo.”

“Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se sela não vem ter conosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar.”

“O tempo é o que queremos fazer dele. Assim como o é o presente, um presente que podemos desembrulhar todos os dias. E o futuro é a mistura dos dois.”

“Quando queremos estar próximos de alguém que gostamos, as palavras nunca se gastam. Como não se gastam os beijos, as mãos que se aconchegam, os corpos que se tocam, as bocas que se comem… “

“… talvez falte este tipo de amor que há tanto tempo procuro; um amor pleno, supremo e incondicional, um amor sereno e seguro que me proteja do mundo, um amor certo e firme, um amor real, em vez do mundo de sonhos em que vivo mergulhada quase desde que me conheço.”

“… as mulheres alimentam-se de amor. Não quero secar como uma velha árvore.”

“Sentia-me completa, e é na plenitude que se pode encontrar a felicidade.”